A menopausa não é um evento repentino. O corpo não decide, da noite para o dia, interromper a produção hormonal. Esse processo é progressivo e, justamente por isso, adotar uma postura reativa à sua chegada é um dos erros mais comuns e prejudiciais na reposição hormonal da menopausa. Mas esse está longe de ser o único equívoco cometido. A maneira como se conduz a investigação hormonal e a interpretação dos exames também pode determinar o sucesso ou o fracasso do tratamento.
O erro de esperar a menopausa se instalar
Muitas mulheres e até mesmo médicos adotam uma postura passiva em relação à reposição hormonal, esperando um ano após a última menstruação para considerar qualquer intervenção. Essa abordagem é equivocada porque a queda hormonal começa muito antes da menopausa propriamente dita. O climatério, que antecede essa fase, é um período marcado por flutuações hormonais que já impactam significativamente a saúde, o metabolismo, o sono, o peso, a libido e a cognição.
A perda gradual de estradiol, progesterona, testosterona e outros hormônios começa anos antes da última menstruação, e aguardar a instalação completa da menopausa para agir significa negligenciar um tempo valioso para prevenir sintomas debilitantes e doenças futuras. A medicina preventiva ensina que devemos agir antes do colapso, e não depois.
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A falha em investigar os hormônios da base
Outro erro frequente é tratar a reposição hormonal da menopausa como se ela se restringisse apenas aos hormônios sexuais. O corpo funciona como um sistema interdependente, e ignorar os hormônios que formam a base do equilíbrio metabólico e neuroendócrino compromete toda a abordagem terapêutica.
Hormônios como melatonina, DHEA, cortisol, T3 e vitamina D desempenham papéis cruciais na regulação do metabolismo, imunidade, qualidade do sono, resposta ao estresse e desempenho cognitivo. Portanto, se esses hormônios estão desequilibrados, a reposição hormonal não atingirá seu potencial máximo, podendo até gerar efeitos indesejados.
O cortisol, por exemplo, quando cronicamente elevado devido ao estresse mal gerenciado, impacta negativamente a conversão do T4 em T3, alterando o metabolismo e a termogênese. A melatonina, por sua vez, não é apenas o hormônio do sono, mas também um poderoso regulador imunológico e antioxidante. E a vitamina D, que na verdade é um hormônio, tem um impacto fundamental na saúde óssea, imunidade e prevenção de doenças degenerativas.
Sem avaliar esses hormônios, qualquer estratégia de reposição estará incompleta.
Confiar cegamente nos exames laboratoriais
Outro equívoco grave é considerar apenas os exames laboratoriais como critério decisivo para indicar ou contraindicar a reposição hormonal. A medicina é uma ciência que se fundamenta na clínica, e a clínica é soberana. Um exame pode mostrar níveis hormonais dentro da referência laboratorial, mas isso não significa que são ideais para aquela paciente.
Os valores de referência são estabelecidos com base em médias populacionais que incluem indivíduos de diferentes idades e estados de saúde. Mas a questão não é apenas estar dentro da faixa de referência, e sim estar dentro do intervalo fisiológico ideal para promover saúde e qualidade de vida.
Mais importante ainda, os hormônios não atuam no sangue, e sim nas células. A medição sérica reflete apenas uma parte da história e pode não corresponder à real disponibilidade hormonal para os tecidos. Isso significa que uma paciente pode apresentar exames de testosterona total dentro da normalidade, mas sentir fadiga, perda de massa magra e baixa libido. Do mesmo modo, pode ter níveis de T3 dentro do esperado e, ainda assim, apresentar sintomas de hipotiroidismo. Os sintomas são dados clínicos valiosos e não podem ser desconsiderados.
A abordagem correta é unir dados laboratoriais à avaliação clínica e ao histórico da paciente. Tratar a paciente, e não apenas um número no exame.
Conclusão
A reposição hormonal da menopausa é uma ferramenta poderosa para preservar saúde e longevidade, mas precisa ser conduzida com conhecimento e precisão. Adiar a intervenção até a instalação completa da menopausa é perder tempo precioso. Ignorar os hormônios da base compromete toda a eficiência do tratamento. E confiar apenas nos exames laboratoriais, sem considerar a clínica, é um erro que pode privar a paciente de um tratamento que transformaria sua qualidade de vida.
O médico que compreende esses fatores e age de forma antecipatória, integrando a clínica, os exames e os hormônios fundamentais, proporciona às suas pacientes não apenas alívio dos sintomas, mas também prevenção de doenças e qualidade de vida a longo prazo.
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