A menopausa é, sem dúvida, um evento biológico inevitável na vida de todas as mulheres. No entanto, ao mesmo tempo, reduzi-la apenas a uma interrupção do ciclo menstrual seria uma simplificação perigosa. Na verdade, trata-se de uma mudança profunda, com implicações que afetam todas as especialidades médicas.
E, com base em mais de 40 anos de prática e estudo clínico sobre hormônios, posso afirmar que o declínio hormonal associado à menopausa é um dos eventos mais subestimados e negligenciados pela comunidade médica.
A Menopausa Não é Apenas Natural
Embora a menopausa seja muitas vezes vista como um fenômeno natural e esperado, seus efeitos vão muito além da cessação da menstruação. A queda na produção de hormônios ovarianos provoca um estado catabólico crônico e progressivo que afeta todos os sistemas do corpo. As mulheres na pós-menopausa enfrentam um risco elevado de desenvolver diversas condições de saúde que são muitas vezes atribuídas à “idade avançada”, quando, na realidade, estão intrinsecamente ligadas ao desequilíbrio hormonal.
O que é particularmente alarmante é o aumento da expectativa de vida, o que significa que as mulheres estão vivendo décadas em um estado de deficiência hormonal. Por exemplo, no Brasil, onde a expectativa de vida média para as mulheres é de 79 anos, muitas passam mais de 30 anos convivendo com esse desequilíbrio, o que, por sua vez, acarreta consequências drásticas para sua qualidade de vida e saúde geral.
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Uma Crise Metabólica Progressiva
A menopausa deve ser compreendida como um evento que não só desencadeia uma série de desordens metabólicas, mas também provoca um impacto cumulativo. Assim que os hormônios, especialmente o estradiol e a progesterona, começam a declinar, as capacidades metabólicas das mulheres também diminuem. Consequentemente, essa queda afeta tudo: desde a saúde cardiovascular até a densidade óssea e a função cognitiva.
De fato, não é incomum que mulheres na pós-menopausa apresentem perda de massa óssea significativa, um aumento do risco de infartos e AVCs, além de um declínio cognitivo notável. A conexão entre os níveis hormonais e essas condições é inegável e não pode ser ignorada pelos profissionais de saúde, independentemente da especialidade médica.
O Papel de Cada Especialidade Médica
O declínio hormonal da menopausa não é um problema exclusivo da ginecologia. Cada especialidade médica tem a responsabilidade ética de se envolver na saúde das mulheres em menopausa. Por exemplo:
- Ortopedistas devem alertar suas pacientes sobre o risco de osteoporose, diretamente ligado à perda de estradiol.
- Neurologistas precisam estar atentos ao impacto dos hormônios na função cognitiva, já que o declínio hormonal pode acelerar a atrofia cerebral, principalmente no hipocampo, aumentando o risco de demência.
- Cardiologistas devem reconhecer que 10 anos de deficiência hormonal elevam significativamente o risco de infarto, um evento muitas vezes mal atribuído ao colesterol.
- Psiquiatras precisam considerar que a ansiedade, a depressão e os distúrbios de humor em mulheres na pós-menopausa têm uma forte conexão hormonal.
Todas essas e outras áreas médicas compartilham um ponto em comum: a menopausa afeta diretamente a saúde das mulheres sob suas responsabilidades.
O Desafio de Integrar Hormônios na Prática Clínica
Infelizmente, muitos médicos se recusam a lidar com o tema hormonal por acreditarem que não têm conhecimento suficiente ou que não é sua responsabilidade. Esse pensamento é perigoso e negligente. Não estamos pedindo que todos os especialistas aprendam a tratar a menopausa, mas eles precisam reconhecer o impacto do declínio hormonal nas suas áreas e informem suas pacientes sobre a importância de buscar um acompanhamento especializado em reposição hormonal.
O conhecimento sobre hormônios tem evoluído nas últimas décadas, e a evidência científica é clara: o tratamento hormonal, quando bem administrado e individualizado, não só pode melhorar significativamente a qualidade de vida das mulheres na menopausa, mas também aliviar diversos sintomas. Portanto, médicos que se recusam a discutir ou orientar suas pacientes sobre essa realidade estão perpetuando um sofrimento desnecessário.
Uma Mudança de Postura é Urgente
Precisamos de uma mudança urgente na forma como nós, médicos, tratamos a menopausa. Não podemos mais permitir que o sofrimento das mulheres seja atribuído simplesmente à idade ou a fatores inevitáveis. A queda hormonal da menopausa afeta todos os sistemas do corpo e, por isso, todas as áreas médicas têm um papel crucial em educar e orientar essas pacientes.
É hora de abraçar uma postura ética e comprometida com a vida dessas mulheres. Por isso, devemos ensiná-las a reconhecer os sinais de declínio hormonal e buscar tratamentos que as ajudem a manter sua saúde e bem-estar. Afinal, os hormônios trabalham a favor da vida, e ignorá-los significa ignorar uma parte vital do cuidado médico.
Em resumo, os hormônios não são o problema; o problema é a negligência com que tratamos a menopausa. Portanto, a medicina precisa avançar, e a conscientização sobre o impacto hormonal na saúde feminina é um passo essencial nessa jornada.
Se você é médico e deseja entender mais sobre o impacto do declínio hormonal da menopausa e como ele afeta diferentes áreas da saúde, inscreva-se em meu canal no YouTube: https://www.youtube.com/c/DrÍtaloRachid/featured